5.4.11

(...) parte I

Às vezes imagino que um dia alguém vai fazer tal pergunta pra mim:
- Qual o prato mais delicioso que já comeste na vida?
...
Já comi tantas coisas que levam lembranças e que talvez a lembrança seja muito mais gostosa que a comida em si.
Por exemplo, quando eu era criança, a Ana que trabalhava com a gente sempre fazia bolo e ela deixava raspa da massa crua pra eu comer e era muita massa. Sempre comia tanto o bolo cru que não fazia mais questão de comer ele cozido, na verdade eu enjoava até do cheiro.
Era a melhor coisa do mundo pra mim, a raspa do bolo, porque quando a mamãe fazia, nunca deixava raspa, ela nem gostava que eu comesse ele cru, mas quando a Ana fazia...
Eu ficava do lado só esperando ela despejar na fôrma e eu já metia o dedo na vasilha para raspar com maior êxito.
Será mesmo que essa massa com o ovo ainda cru era tão gostosa assim? Não era. É uma lembrança boa, bonita que eu guardo com muito afeto.
Ana é lembrança durante sete anos em minha vida, era minha melhor amiga.
Gostava de Caetano Veloso e lia livros de suspense pra mim. Nunca mais a vi, desde a infância.
Agora um sabor mais recente...
Lembro-me muito bem do sabor da batata frita do Bodega.
O bar que me apaixonei desde a primeira vez que fui, com meu pai. Era aquele bar que podíamos ter ido todos os dias, que não enjoávamos, me sinto até arrependida de não ter ido mais vezes ou de tê-lo conhecido um pouco antes para ter aproveitado um pouco mais.
O Bodega passou a ser aquele lugar de descobertas e segredos revelados.

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