14.9.08

termina (?) (!)

Certa vez eu postei um texto do Barthes muito lindo sobre o amor (podia ser clichê se não fosse bom), pessoas comentaram a respeito (inclusive eu) e eu vou registrar agora isso aqui:

Primeiramente o texto:

Como termina um amor? – O quê? Termina? Em suma, ninguém – exceto os outros – nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho ( o outro nunca desaparece quando e como se esperava ). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim minha história de amor: sou poeta (o recitante apenas do começo); o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam o romance, narrativa exterior, mítica.

~ Roland Barthes
Agora os comentários:
Meu irmão à respeito: Termina? Eu tenho minhas dúvidas quanto a isso...Se termina não era amor.
Eu em resposta: era amor, se terminou é porque havia de terminar.mais cedo ou mais tarde.
Verena: Nesse assunto (amor) nunca sei direito que comentar.Mas vai ver o amor não acaba, só se transforma. Continua, só não da mesma maneira.
Meu irmão: o que a verena falou é exatamente o que eu penso.ele não acaba, se transforma.se achas que acabou, é pq ele jamais existiu de verdade.
Eu: tudo que é sólido se desfaz no ar, acaba.tudo no mundo acaba, mesmo um amor e mesmo o amor sólido.ele, por alguma razão teve que se desfazer, não sei se no ar, talvez aqui dentro, mas teve.acaba. a saudade acaba,não esquecemos, não escondemos, só não mais sentimos.
Yasmin: Eu concordo que o amor nunca acaba, apenas se transforma, mas transforma por que uma das partes quis que transformasse, como se fosse obrigado a se transformar, talvez pelo esquecimento, ser a maioria das vezes obrigatório, quem sabe não seja por isso que nunca acaba, por essa vontade reprimida de amar, e não poder mais...
Meu irmão: Discordo, apesar de serem belas palavras ditas de maneira também bela.Amor, como tudo, acaba. Mas acaba quando? Pra mim acaba com a vida, não antes dela. Apenas a morte destrói o amor. E ainda assim, nem sempre ela o faz.Saudade acaba, mas não é sinônimo de amor. Assim como paixão não é sinônima ao amor. Nem carinho. Nem amizade, ou atração.A questão é se realmente as coisas acabam... As coisas acabam, ou se transformam? Se transformam ou se deslocam? Quem sabe... O que eu sei é que jamais vi um amor se acabar...
Eu: "Saudade acaba, mas não é sinônimo de amor. Assim como paixão não é sinônima ao amor. Nem carinho. Nem amizade, ou atração." Concordo plenamente com isso, nada pode ser comparado com amor, não existe sinônimo (e nem antônimo - até porque o ódio é muito equivalente ao amor), não existe palavra que o valha... mas amor (não) é só uma palavra, por isso ninguém sabe ao certo o que é nem quando o é.Eu já vi amor acabar, não o amor de pai ou de filho ou de irmão, porque mesmo que fujamos disso o amor é diferente quando se trata das pessoas que sentimos isso, ou que achamos que sentimos, sei lá. Não estou confundindo amor com paixão, longe disto. Quem amo, não esqueço, não importa quem seja. Mas se amor não acabasse não existiria o verbo no passado "amei", quer dizer que deixou de amar, mas não significa que não sinta mais nada, o que digo que acaba é o amor, e não qualquer outro sentimento que sentimos pela pessoa.Daqui a 50 anos eu lembrarei da pessoa que amei com os sentimentos ruins e bons que posso ter alimentado por ela e podem até voltar, porque foi amor o que senti, lembrarei sempre com carinho, mesmo se a pessoa tiver mudado, mas o tempo em que ela estava comigo e o que ela foi comigo foi o que amei.Mas depois de ter lido esses comentários, eu acredito que amor pode não acabar, e sim se transformar (ou se deslocar, quem sabe), porque é algo muito forte, como um membro do corpo que não arranca-se do nada, por motivos como tempo ou decepções. Não sei...
Meu irmão: Estás certa, em quase tudo.Mas estás sim, confundindo amor com paixão. Ódio nada tem a ver com amor. Sabes a origem da palavra "paixão"? Paixão originalmente significava "sentimento extremo". Sentimento de quê? De qualquer coisa: ódio, carinho, desespero, tristeza...Amor é amor, e apenas isso. Mas se transforma. Por isso existem diversos tipos de amor. E por isso você jamais esquece a pessoa que amou. Não a deixou de amar. Distanciou-se, talvez. o que faz com que você não mais conheça a pessoa hoje, e ame a pessoa que conhecia antes (continua amando).
Eu: "Ódio nada tem a ver com amor" - é, depois que escrevi isso e reli, fiquei pensando se realmente achava isso, e não. Não acho que tenha a ver.Mas se o amor se transforma, se transforma em que? pode ser em qualquer coisa, até em desprezo, então não existe mais amor... porque amor não deixa de ser amor, não é outra coisa."o que faz com que você não mais conheça a pessoa hoje, e ame a pessoa que conhecia antes (continua amando)." - Eu amo a pessoa que conhecia e não mais a de hoje, a de hoje eu mal conheço. Não a amo, amava.
Meu irmão: 1- Amor se transforma em amor. Em outro dos milhares tipos de amor.2- Não amas a pessoa de hoje, mas amas a pessoa de antes, que não deixastes de amar. Apenas não a encontras mais... A de hoje jamais amastes. Pessoas mudam, assim como tudo.Odeio quando começo a racionalizar sentimentos... Que droga.
Eu: 1- Como assim em outros tipos de amor? Existe um amor menor que outro? Parece estranho, só consigo diferenciar o de pai, mãe, filho, irmão e companheiros. Desconheço esses outros tipos de amor, nós discutíamos sobre o amor ser amor e pronto, não é outra coisa. 2- Pois então, não encontro mais a pessoa que amei - amei, no passado - o que amei foi embora, não existe mais, não a amo hoje. Se ela mudou (e mudou porque todos mudamos) eu não amo mais pelos motivos que a amava, talvez por outros motivos, mas se nós nos distanciamos, não existe mais o amor, porque é outra pessoa "A de hoje, jamais amaste". Amo o passado dela. E não ela, porque o ser dela é o hoje.
Meu irmão: 1- Não é diferente em intensidade, mas em qualidade. Não é amor menor, ou maior. É amor de amigo, de filho, de namorados, etc...2- Pensando sobre as coisas, e talvez algumas opiniões minhas tenham mudado por aqui...

(O último comentário foi do meu pai, não tinha mais espaço pra outros.. e fechou com chave de ouro)

O amor não existe... ou é tudo. A idéia que temos do amor não é o amor, é a idéia que fazemos dele. Amamos realmente alguém? Ou amamos a nós mesmos...? O que significa amar? Sentir, vibrar, lembrar, sensibilizar? O amor existe? O amor é um só? Amamos todos da mesma forma? Quem realmente ama? Eu posso dizer que amei diversas vezes, diversas pessoas, intensamente todas elas e cada uma de um formato, cada uma com seu próprio desenho, com seu/meu próprio sonho. Então o amor é um sonho, um filme, um luar intenso a desbravar nossas florestas? Amamos o amor? Eu amo, amar... acho que o dia que conseguirmos explicar o amor ele se tornará tão pequeno e efêmero que não mais existirá. O amor existe... ou é tudo.

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2 comentários:

Rasguyasminhas disse...

eu sabia que quando entrasse no teu blog domingo, eu ia ver algum post teu, falando sobre isso, sabia!

Ícaro disse...

lindo