21.8.08

sentido

Fui andando. Nem parecia que ele estava ao meu lado. Eu estava sozinha.
Com aquele cheiro do quarto, do cachorro, o gosto na boca, areia na sandália, cabelos presos por conta do calor em que esta cidade se encontra. Mas nada disso realmente importava, eu nem sentia, eu só pensava na não-presença dele. A rua parecia ser só minha, o barulho dos carros só eu escutava, os sinais abriam somente para minha passagem, os andantes desviam do meu ser, não havia mais ninguém ali, não quis olhar pra trás, nem adiante. O chão parecia muito mais atraente, os movimentos dos meus pés... gosto de observar a inconstância com que eles empurram o asfalto, seus rastros, meus rastros. Aquela voz distante falando (será comigo?), uma mão segura a minha com força, com medo de eu fugir (que mão é essa?). Eu vou fugir, pra onde? Ele sabe pra onde. Com quem? Ele sabe com quem, eu não sei. Eu estava sozinha. Uma boca encosta no meu pescoço(nenhum arrepio, de quem é essa boca? será o vento?). Só meu coração batia, só eu vivia ali, naquela rua. Ele me esperava, me fitava, me segurava com força. Eu nem sentia mais a dor na mão, o sangue já estava preso mas nem cãimbra me deu. Cheguei onde queria, mas não entendia o que sentia. Me deu saudade de ficar bêbada, de falar coisas que não me convinham de fazer outras que nunca faria. Saudade chata, que nem aquela chuva quente que passa e vai embora, demora de voltar.
Eu estava sozinha.

3 comentários:

hgwxxq7 disse...

faz publicidade

Gabi disse...

Adorei o post, principalmente o final, realmente adorável, o texto inteiro.

mentos. disse...

Lindo...
Sério.