boa noite, noite

Hoje, a noite estava boa comigo (isso não é um diário, é só um relato do dia de hoje, por assim dizer). O professor liberou os alunos mais cedo, e quando saí da aula estava chovendo, uma chuva linda que pedia um cigarro. Fiquei na parada esperando o ônibus, só tragando aquela beleza do escuro do asfalto, com uns respingos que caíam nos meus ombros depois de terem percorrido todo o guarda-chuva preto quebrado. Quando subi no ônibus o cobrador fez a grande gentileza de me cobrar só um real a passagem e disse pra eu descer pela frente, isso foi lindo (apesar de eu saber e ter consciência de que isso é errado, mas eu perdôo porque hoje é hoje). As janelas estavam todas fechadas porque o paraense adora um calor, um mormaço, mas estava frio, muito frio. As pontas dos meus dedos estavam geladas e toda vez que eu ajeitava o cabelo eu me assustava com a temperatura da minha própria mão. Chegando pelo Ver-o Peso, subiu uma senhora, andava meio torta, reparei em um de seus olhos que estava inchado, meio roxo. Sentou na primeira cadeira, se encostou na janela cheia de pinguinhos e chorou. Quando eu vi aquilo fiquei paralisada, a tristeza dela era bela, talvez posso ser chamada de cruel por isso, mas vi muita beleza naquele choro descarregado em pleno ônibus, com aquela iluiminação laranja sombria da cidade velha. A velha chorava, meio desesperada, meio com medo de alguém vê-la. As pessoas às vezes não entendem a tristeza, eu olhei e entendi (como se fosse eu ali...).